A "pedido de muitas familias", o DR. João de Sousa finalmente publica um artigo seu, desta vez, analisando a apresentação de contas que vai ser hoje levada a AG.
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Durante meses fui um espectador atento da vida do Sport Clube Beira Mar, regozijando-me com as vitórias e entristecendo-me com as derrotas, e tendo sempre presente que os órgãos sociais eleitos para gerir o clube o foram pela vontade democraticamente expressa pela maioria dos sócios votantes, que lhes concederam um mandato para gerir a instituição com ponderação, rigor e bom senso.
Este entendimento levou-me a suspender a publicação de alguns desabafos neste blog, não descurando contudo um acompanhamento cuidado da gestão desenvolvida na componente económico-financeira nos últimos meses.
Como ponto prévio à análise acho fundamental relembrar os sócios, e existem muitos – esquecidos e/ou mal agradecidos, do trabalho excepcional desenvolvido pelas anteriores Direcções no período que decorreu entre 1995 e 2005, na gestão do Sport Clube Beira Mar. Relembro que tendo-se inicialmente evitado a bancarrota, se equilibrou posteriormente o clube em termos financeiros, tendo-se mesmo nas últimas seis épocas apresentado resultados positivos que somados totalizaram os 1.252.768,92 €.
Mas nem só os resultados positivos foram importantes, outros dados recolhidos no relatório de 2004/2005 evidenciam uma gestão criteriosa, equilibrada e consequente, elogiada por todos e pouco habitual no panorama nacional:
a) O Passivo atingia os 2.931.020,19 €, sendo 38% a médio e longo prazo (pagamento a mais de um ano);
b) O Activo atingia os 1.916.478,55 €, sendo 77% de dívidas de terceiros de curto prazo e de disponibilidades;
c) O endividamento à Banca cifrava-se somente em 472.000 €;
d) Os Capitais Próprios, que em 1999 eram de 1.787.009,60 € negativos, na época de 2004/2005 cifravam-se em 1.014.541,64 € negativos.
Passado um ano, e visando estabelecer um paralelo comparativo, analisei o Relatório e Contas do exercício de 2005/2006 e deparei-me com um documento claro e bem elaborado, onde se evidenciam os resultados de uma péssima gestão económico-financeira, que não desportiva.
Contudo ambas as coisas não se podem dissociar, e esse foi o principal erro protagonizado pela Direcção do Beira Mar. Não adequar os custos aos proveitos expectáveis, evidencia um comportamento de rico com rendimentos de pobre, em que o endividamento é a solução mais fácil. O Estado Português fez o mesmo durante anos, e agora sofrem-se os efeitos do tratamento.
Sem dúvida esta é a principal razão para o descalabro verificado. Podem invocar que tal facto resultou da descida da equipa profissional de futebol à Liga de Honra, mas relembro que na época de 1999/2000 o Beira Mar também desceu, e nessa época o lucro do exercício foi de 73.559,06 €.
Continuando a análise do Relatório de 2005/2006, entre a informação disponibilizada sintetiza-se a que reputamos de fundamental:
a) A apresentação de um prejuízo de 2.002.154,65 €, que deveria ser de 2.168.983,65 €, se utilizados os mesmos critérios de 2004/2005, conforme Parecer do Revisor Oficial de Contas;
b) O Activo atingia os 2.023.178,36 €, sendo 67 % de dívidas de terceiros de curto prazo e de disponibilidades, sendo estas inferiores aos valores verificados em 2004/2005;
e) O Passivo atingia os 5.039.140,00 €, sendo 23% a médio e longo prazo (pagamento a mais de um ano). Note-se que na época de 2004/2005 o Passivo era de 2.931.020,19 €, tendo este crescido de um ano para o outro em 72 %;
f) Os Capitais Próprios passaram a ser em 2005/2006 de 3.016.696,29 € negativos;
c) Os custos do exercício foram de 4.617.542,06 €, não adequadamente compensados pelos proveitos que atingiram somente os 2.623.007,37 €.
Face aos dados apresentados questiona-se como foi possível cumprir com os compromissos assumidos no decorrer da época. A resposta é perfeitamente perceptível no Balanço em 30 de Junho de 2006. O crescimento dos empréstimos contraídos junto de instituições financeiras, e registados como obrigações a pagar a menos de um ano, obviamente em nome do Beira Mar, mas caucionados, presumo, com avais pessoais dos Directores, atingem os 2.102.385,26 €. Igualmente os empréstimos de terceiros, penso de Directores, têm o valor de 667.495,55 €. Somados estes valores, eles atingem os 2.769.880,81 €, que somados aos restantes valores do Passivo, contribuem para o citado crescimento num ano de 72 %, e o consequente descalabro total na gestão financeira.
Durante anos, e enquanto o Eng.º Mano Nunes foi Presidente, o Sport Clube Beira Mar foi gerido com parcimónia, rigor e objectividade. Sabia-se o que se queria e conciliava-se a vertente desportiva com a económico-financeira. Neste ano, estragou-se todo o trabalho desenvolvido em dez anos, e hipotecou-se o clube a troco de uma miragem – a subida a todo o custo à Liga Bwin.
Diz o povo e com razão, que quem não tem competência não se estabelece. Assim, e como quem está a gerir são homens conhecidos por terem elevada liquidez, assumam as suas responsabilidades e não hipotequem o futuro do clube. Não pensem em lançar mão da constituição de uma SAD como medicamento para sanear financeiramente a instituição, pois os sócios não vão deixar.
Assim o espero!
João Sousa
9 comentários:
Mas o Dr. João de Sousa acha que os actuais dirigentes vão pagar um centimo do bolso deles?
Um abraço saudoso a toda a direcção do Engº Mano Nunes.
Gaba-te cesto que vais para a vindima.
Rui Costa
Força Dr de Sousa. Chegue-lhes forte que eles merecem.
DR. João de Sousa à presidência, JÁ
Dulce Costa
Eu, vou aprovar as contas para os responsabilizar a deixar o Clube, de saldo positivo, como o receberam financeiramente do ex-Presidente, Mano Nunes.
Parabéns, Dr. João de Sousa, voltas-te em força e com a fundamentação económica elucidativa da situação caótica que se encontra o nosso Beira Mar.
CONTRA FACTOS NÃO HÁ ARGUMENTOS.
sic transit gloria mundi
Caro João Sousa
Bela análise da qual retiro:
Prejuizo do ano - 2 milhões de euros - 400 mil contos
Dívida total - A atingir os 5 milhões de euros - 1 milhão de contos
Dívida de curto prazo - 3,85 milhões de euros - 770 mil contos
Dívidas de terceiros e disponibilidades - 1,35 milhões de euros - 270 mil contos grande parte da qual se pensa ser da EMA.
Capitais próprios negativos em 3 milhões de euros - 600 mil contos ou seja o clube está mais que falido contabilisticamente.
Perspectivas de melhoria da situação este ano - nenhumas mesmo que tudo corra bem em termos desportivos.
É bom que quem contribuiu para levar o clube a esta situação se prepare para honrar os avales que tem na banca (terão?).
Abraço
Continua a abrir-nos os olhos.
JMC
Então, Dr João de Sousa estava à sua espera na AG para ouvir as suas doutas palavras e afinal defraudou as expectativas. Não desista. Força para a presidência
Dulce Costa
Dulce!
O Dr. João de Sousa, nunca desejou, nem deseja, ser Presidente do nosso Beira,mas sim excelente economista.
Ficou demonstrado na sua administração enquanto dirigente.
Que os outros pelo menos, façam o mesmo!
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